Cinemagik

Jairo Ferreira

"O que está em cima é como o que está embaixo"
Hermes Trismegisto

01. Pra mim fica difícil escrever alguma coisa nova sobre cinema marginal. Venho me dedicando ao assunto desde 1967. Já escrevi demais sobre – então vou tentar reinventar, reinverter, revisitar;

02. Ultimamente adotei o estilo de 22 tópicos pra TODO e qualquer bloco que leve minha impressão digital;

03. O Underground não está em cima nem Hollywood embaixo. Mas sou um desapaixonado, um cético, um agnóstico na maré alta do horror neoliberal;

04. Me ligaram pedindo matéria de 3 mil caracteres. Agradeci ao Akasha. Sensitivo, parece que recebo ordens de Louis Lumière, mas minha signagem é Georges Meliès;

05. Udigrúdi é lance cíclico. Cinema Novo. É uma febre que vai & volta – tipo herpes, micose, sarampo;

06. Doença incurável do invencionismo? Não: os melhores termos são: alternativo, independente, cinepoesia. Fechei com Orson Welles: EXPERIMENTAL;

07. Tenho carinho pelo 7. Notai que o hermetismo é baseado em 7 princípios. Baseado é bom, né? Tudo pra mim é significante, mas saí da onda semiológica há séculos;

08. Ética na ótica de uma revisão crítica do Udigrúdi. Agora me perguntarão: Mas Jairo, você não execrava tal termo lançado pelo Glauber?

09. Fiquei puto com o pejorativo, mas hoje acho simpática essa corruptela de underground – undergroud é Kenneth Anger.

10. Peixoto era um pixote prodígio. Magricela igual eu. Imagine só: nasceu em Bruxelas. Título: sob o signo de peixes. Detesto esse signo, meu pai era pisciano;

11. Evito comparações. Freud dizia que cada cabeça é um mundo. Pixote enganou meio mundo dizendo que Eisenstein elogiou Limite.

Precursor de F for fake, com cerveja;

12. Rogério Sganzerla é o maior de todos. Termina agora um longa chamado Sob o signo do caos. Não vi nada, mas já gostei.

13. Esse number cai bem em Zé do Caixão. Maldito (1999) é um verdadeiro tratado. Não existe morte: o que há é transmutação. Mojica é simplesmente um humanista como Chaplin. Ponto em comum: cartola de mágico;

14. Sou a carta zero, sou o coringa do baralho, sou o gerente do hospício. Sou Rimbaud, sou Artaud. Sou a temperança – amor humor. Ozualdo Candeias virou muçulmano. O cara é um duplo do mestre Nelson Pereira dos Santos que curto numa boa. Sou bakuniniano, chiapense, antonioniano. Sou um cineprofeta & – como se sabe – daqui ninguém sai vivo;

15. Sou hare krishna como Helena Ignez, que merecia um Oscar por A mulher de todos. Matei meu ego faz tempo, nem sei o que é megalomania. Sei o que é alegria de viver a vida respirando endorfina no Parque da Aclimação. Hoje tô na cafeína & no cigarro de canela.

16. A questão marginal é um lance de olhos na iconoclastia. Nessas só temos o hipercinema de meu brother of universe Reichenbomba & A primeira carta do tarô é o mago & pinto como imagem inicial em Alma corsária.

17. Breviário: cinemafásico, ágrafo & atonal. Gosto muito da pessoa e d'O pornógrafo – João Callegaro é ótimo em tudo. Fico pensando em Hélio Oiticica que conheci em 3 encontros no Leblon, 1978;

18. Vá, anote aí meu site: www.contracampo.he.com.br. Agora preparo um arroz tamaki – ouço Hendrix, mas Jimmy Page me pega mais por ser crowleyano, gênio na guitarra;

19. Presente & futuro. Gosto de falar em novos & novíssimos. Os novos são neófitos na árvore cabalística do marginal cíclico. Destaco Luciana Araújo pelo belo resgate – Recife + os bambambans Paulo Sacramento, Debora Waldman & o prodigioso Marcelo Toledo que agita legal com o carismático Paolo Le Fou Gregori – tudo gente fina, meu advogado garante;

20. Fico sensibilizado ao saber que esse paideuma terá um filme like Perdidos e malditos (1970), de Geraldo Veloso, que aliás está em O insigne de minha psicolavraparanóide 1980 by Sylvio Lanna the king da mixagem em bandas de Sagrada Família, mineira ou não. Acham que esqueci do Zé Sette? Um filme 100% brasileiro, cinebeleza;

21. Sintonia na Bahia? Tá no caminho, mas não confunda André Luiz Oliveira com Alvinho Guimarães. Ambos no período 1967 / 1971. Meteorango Kid é do André. Alvinho fez Caveira, my friend. Por que não botar aí um Edgar Navarro?

22. Seria à guisa de conclusão, correto? O futuro é minidevê, hoje prefiro DVD que sala escura. Tudo acaba como começou, na caverna de Platão. Não tenho pressa – perdi a ansiedade & a euforia. Estou cool – avanço com os pés no chão e a cabeça nas estrelas.